Mirian Grasiela Teodoro Benevides é Mestre em Geografia pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), sua especialidade é Geografia Agrária e Humana com ênfase em conflitos, terra e posse, na região do interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Por vez seu último estudo foi: O ACAMPAMENTO COMO TERRÍTÓRIO DA LUTA PELA TERRA E DA PRODUÇÃO DE TERRITORIALIDADES CAMPONESAS. Em meio a ano político, Mirian apresenta nessa entrevista, realizada em encontro no Campus I da UFMS, a visão geográfica e humana da atual situação do MST(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), bem como todo movimento açucareiro da região (atual estudo).
Qual a atual realidade dos acampamentos e lutas do MST realizados na região?
R: A luta pela terra renasce na região de Andradina SP com um total de aproximadamente 21 acampamentos organizados por diversas frentes de luta pela terra, distribuídos nos municípios de Guaraçai, Nova Independência, Castilho, Itapura, Andradina entre outros municípios. Estes acampamentos são organizados pelo MST e outros pelo STR (SINTRAF) ambos com o mesmo objetivo a conquista da terra.
Devido ao interesse de alguns, muitos dos movimentos de esquerda se modificaram, denegrindo assim sua imagem diante a população, você considera ainda o MST como um movimento totalmente de esquerda?
R: Houve uma flexibilidade dos Partidos Políticos, principalmente o PT que é aliado do MST (na historia do Brasil foi e é o principal movimento social de luta pela Terra), muitas pessoas confundem os movimentos que surgiram do MST, ou seja, dissidências com a política do MST, esses novos movimentos sociais tem o mesmo propósito que o MST, mas na essência da forma de como adquirir terra é diferente.
Durante esses estudos territoriais onde encontrou maior deficiência na questão agrária/social?
R: O maior problema da Reforma agrária atualmente é o não cumprimento das leis, tanto o ESTATUTO DA TERRA, como a CONSTITUIÇÂO FEDERAL garantem o acesso a terra improdutiva, só que as leis existem e não é cumprida, historicamente a região norte foi que sofreu e sofre atualmente o abuso dos chamados “coronéis” é uma região que está desprovida de investimentos básicos, imagina a reforma agrária, que proporciona melhorias a uma minoria no Brasil.
Qual a história de vida que mais te tocou? O que mais se encontra nesses acampamentos?
R: “Já andamos pra lá, já andamos pra cá. Baixamos e erguemos lona [...]. O coordenador vem fala que as terras tão pra sair e cadê essas terras, fazem quatro anos que estou aqui, mas não vou desistir enquanto existir um barraco eu vou ficar aqui[...].”
Citei o relato dessa senhora de idade, mesmo estando debilitada devido a idade, o trabalho pesado que fez durante sua vida, não perdeu a esperança de um dia estar em seu pedaço de terra, e hoje depois de 4 anos da entrevista ela é assentada e vive em seu lote, isso me emocionou muito.
Em que, a política brasileira deveria mudar para tornar o processo de reforma agrária mais forte?
R: Tirar da oratória que os mais pobres e necessitados precisam de ajuda e assim fazer, o Brasil é atrasado em relação à Reforma Agrária, o que tem a mais complexa lei é infelizmente o que menos fez, o Brasil quis afirmar sua economia na política industrial, trazendo pra cidades, muitas pessoas, causando a maioria dos problemas sociais que encontramos atualmente nas cidades.
Organizar o vasto território brasileiro ajudaria a ter terras para todos e todos os fins, afinal o Brasil é um dos países que tem maior numero de terras agricultáveis no mundo.
Sua atual pesquisa se destina a produção de cana-de-açúcar na região, qual o maior interesse desse estudo?
R: Constatamos durante nossas pesquisas que conforme avança a propriedade privada da terra, com as plantações de cana-de-açúcar contraditoriamente aumenta o numero de acampados, temos no mesmo território confrontando a cana-de-açúcar e o acampamento. Daí percebemos algumas inquietação em relação à soberania alimentar, com a expansão da monocultura da cana-de-açúcar e outros grãos, onde ficará as plantações responsável pelo abastecimento interno de alimentos, uma nova organização do trabalho surge, por isso a necessidade desta nova pesquisa.